A morte, como parte da vida e como o fim de um ciclo de vida, acontece nos idosos de forma, às vezes, súbita ou fortuita, após uma doença rápida e fulminante. Também pode vir como conseqüência de uma queda ou de um pequeno acidente. Porém, numa boa parte das vezes, a morte chega após uma enfermidade longa, sem resposta à tratamentos curativos, por uma falência geral de todos os órgãos, onde o idoso fica cada vez mais fragilizado, e todos têm a intuição que o fim está próximo. Raramente, a causa da morte, nestes idosos, é por somente um tipo de doença.
Não podemos perder de vista que os objetivos do tratamento de um idoso em fase final de vida, por doença, consistem em aliviar os sintomas, buscando melhorar, na medida do possível, seu bem estar físico e psicológico. Os esforços da equipe de saúde e da família serão focados no idoso e não na doença. Da doença mesmo, buscar aliviar principalmente os sintomas.
Dito isso acima, nota-se que temos, como profissionais de saúde, de buscar uma mudança em nossas atitudes e padrões de trabalho e mentalidade. Estamos acostumados a diagnosticar, tratar, curar e “dar alta”. Quando não temos sucesso, quando o fracasso na luta contra a doença aparece, somente falamos que “não há mais nada a fazer”. É aí que deve haver uma mudança de paradigma na atuação do profissional de saúde. Nestes casos, devemos abrir nossos corações para acolher, escutar e estar com o idoso… simplesmente ficar ao lado dele e de sua família!
Nas fases mais avançadas, os idosos podem estar mais debilitados, fragilizados e com o nível de atenção e consciência reduzidos, sendo até incapazes de ingerir alimentos por via oral. A falta de um aporte ideal de alimentação e de refeições que não foram feitas, devido a recusa ou sonolência do idoso, traz uma grande angústia para a família e para a equipe médica. Recorrer a dieta enteral através de sonda, bem como a hidratação venosa somente em casos selecionados e criteriosamente avaliados, não servindo de rotina para todos os idosos e para todas as situações de inapetência.
Lembrar que hidratação através de soros pela veia pode levar à sobrecarga de líquidos no organismo, piorando a função do coração e causando o que chamamos de dispnéia, ou seja, respiração difícil e rápida, por excesso de líquidos no pulmão.
Atualmente, é impensável deixar que o idoso tenha sintomas incontroláveis de náuseas, enjôos, falta de ar, mal-estar e DOR. O arsenal terapêutico é imenso e a medicina pode minimizar estes sintomas na maioria dos casos. Não deixe de conversar com os médicos a respeito, e não aceite um “é assim mesmo” como resposta!
Um exemplo muito comum a ser dado é o paciente em fase terminal de doença de Alzheimer, que provavelmente pode apresentar como evento final (o que causará diretamente a morte) uma pneumonia, uma infecção generalizada, problema cardíaco ou derrame. Conhecemos vários idosos que, acometidos por problemas cardíacos ou respiratórios graves, foram levados para o hospital (se já não estavam internados) e de lá para a UTI. Imaginemos a cena: seu familiar em fase final de demência, com pneumonia grave, com poucas chances de sobreviver, sendo levado para a UTI. Os médicos colocarão um tubo na garganta do idoso, que será ligado à uma máquina que irá respirar por ele. Irá ser administrado antibiótico ainda mais potente e caro. Irá ser alimentado por uma sonda gástrica. A urina irá também sair por outra sonda colocada na uretra até à bexiga. Nestas condições, o idoso poderá ficar vivo durante dias ou até semanas. Se perguntarmos aos médicos quais as chances de sobrevivência, eles dirão que são remotas, mas que estão fazendo tudo que está ao alcance de suas possibilidades!
Este paciente certamente irá à óbito sem a presença de sua família, sem o carinho de seus amados. Morrerá como um número (paciente do leito tal), na hora que a medicina fracassar. Muito triste, não?
Temos, sim, condições de escolher o que será melhor para nós e para os nossos familiares. O que será mais humano. Um velho ditado sobre o cuidado com o paciente diz que devemos cuidar sempre, curar quando possível e jamais abandonar! Levar o idoso com demência, em fase terminal de doença, para a UTI, certamente irá parecer abandono. Só se prolonga a vida (é vida?), tentando afastar a morte inevitável. Não seria melhor o idoso descansar?
Dizemos que a doença de Alzheimer é uma doença familiar, onde todos os familiares convivem e compartilham o sofrimento de ter seu amado nestas condições. Se a família não é incluída nas decisões de tratamento e na escolha de sua partida, tudo que foi investido em cuidado poderá se perder. Damos um longo adeus nos anos finais de sua vida, e no momento derradeiro, ficamos ausentes.
Converse com todos os familiares e com o médico à respeito do que estamos falando. Não deixe para a última hora a decisão de como se deve agir nas emergências, na piora da doença. Pense em qual poderia ser a vontade do idoso. Empregar todos os recursos médicos disponíveis para prolongar a vida, ou não usá-los e ter uma morte mais digna ao lado de seus familiares? Há uma grande diferença entre salvar uma vida e não deixar que a morte sobrevenha (fase terminal de doença e de vida).
A idade não é decisiva; o que é decisivo é a inflexibilidade em ver as realidades da vida e a capacidade de enfrentar essas realidades e corresponder a elas interiormente.Max Weber
Nenhum comentário:
Postar um comentário